Comentário
Aqui está um conceito que parece ter sido abandonado por boa parte da Esquerda e que a meu ver é fundamental para a emancipação da Vida Humana. O conceito de Disciplina que aqui se defende é o seguinte: mecanismo de auto-controle da coletividade humana sobre si, bem como de auto-controle do indivíduo sobre si próprio. Sendo assim, a Disciplina, para ser emancipadora, precisa ser livremente auto-imposta. Efeito disso é o aumento da Vontade de Ser (Perseverança no Ser, Potência de Agir, Vontade de Poder, como quiser chamar a essência de todo ente) através da busca pelo fortalecimento da mente-corpo (duas faces inseparáveis do ente Humano). Como exemplos podemos citar a prática de exercícios físicos de alta intensidade regularmente, estudo intenso e diário, ter uma boa e forte dieta, refreamento de determinados apetites lúbricos etc. E se em termos de proposta política eu discordo veementemente de Nietzsche, pelo menos neste ponto estou de acordo com ele: Vontade de Poder engrandecida não busca o aumento do sentimento de prazer e diminuição do sentimento de dor, mas sim busca tanto um quanto outro. O cerne da questão é simples: Vida plena e feliz é aquela que se conquista com unhas e dentes, se submetendo a esforços tremendos para conseguir ser mais. Ou vocês acham que a prática de exercícios físicos é prescrita para pessoas com depressão porque o profissional da saúde tem alguma espécie de fetiche sexual com o paciente e quer vê-lo “sarado” na próxima consulta? E, aliás, sobre exercícios físicos há que se dizer o seguinte: se não está doendo, você está fazendo errado. A academia de musculação (o esporte que eu pratico), por exemplo, não é um local para se “sentir bem” ou “descarregar boas energias”: qualquer pessoa que está há mais de um ano nesse ambiente e o leva a sério sabe que aquilo é um local para o seu corpo sofrer, pois sem grandes esforços físicos não há expressiva hipertrofia muscular e queima de gordura - que por sinal são coisas extremamente saudáveis, desde que não seja feito o uso de hormônios sintéticos e outros ergogênicos.
Mas voltando à questão política. É sabido porque parte da Esquerda fala lorotas sobre esse conceito tão absolutamente necessário para a Vida chamado Disciplina. Com efeito, é como se isso fosse algo exclusivo dos fascistas, e não historicamente algo intimamente ligado à luta dos trabalhadores. Como se a Disciplina não estivesse, por exemplo, esteticamente ligada à filosofia artística do Construtivismo, e representada nos cartazes de guerra da Confederación Nacional del Trabalho (CNT) e da Federación Anarquista Ibérica (FAI) durante a Revolução Espanhola; ou no discurso e na prática militante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB); nas marchas e coros das forças militares da Federação Democrática do Norte da Síria; como se os índios Zapatistas da EZLN se organizassem politicamente segundo o “fazes o que queres, pois é tudo da lei” defendido pela geração de Raul Seixas, Ave Sangria e Novos Baianos! – aliás, as duas últimas são ótimas bandas que eu, por sinal, adoro (mas até para fazer música hippie é preciso Disciplina, ensaios atrás de ensaios e repetição atrás de repetição após cada erro de acorde!). E isso porque mencionei apenas quatro exemplos do campo libertário da Esquerda, pois fosse eu incluir todos pertencentes apenas a esse campo que me vêm à cabeça neste momento, passaria eu escrevendo páginas e mais páginas apenas aqui nesta seção (que dirá se eu decidir incluir os exemplos do campo Estadista!). Enfim, como se pudesse haver qualquer possibilidade de ruptura com as estruturas vigentes, radical transformação social e criação de uma sociedade soberana sem uma concentração de forças gigantesca das organizações sociais representantes das lutas dos de baixo.
Deve-se compreender que o que estou defendendo aqui nada mais é do que aquilo que defenderam com outras palavras a militante feminista Jo Freeman em seu artigo “A Tirania das Organizações Sem Estrutura”, e o teórico do Comunalismo Murray Bookchin em seu “Anarquismo Social ou Anarquismo de Estilo de Vida”. Defensores da Nova Esquerda e outros liberais de Esquerda obviamente dirão que estou a defender um autoritarismo da coletividade sobre os indivíduos. Como se meros bundaços e beijaços contra Bolsonaro, Kaczynski ou Duterte tivessem qualquer impacto real para além do mero âmbito simbólico! Vejam vocês o absurdo da bunda-molice em que chegou parte da nossa Esquerda, para quem combater o fascismo em coletividade e com Unidade de Ação é fascismo também!
No mais, os samples retirei do filme “Alexander” de Oliver Stone e desta versão da música “Biji Biji Ypg”: www.youtube.com/watch?v=47hYnXu7TgI

Commentary
Here is a concept that seems to have been abandoned by a reasonable part of the Left and that the way I see is crucial for the emancipation of the Human Life. The concept Discipline that is defended here is this: mechanism of self-control of the human collectivity upon itself, as well as self-control of the individual upon herself, or himself. That being so, Discipline, in order to me emancipative, needs to be freely self-imposed. The effect of it is the boost of the Will to Be (Perseverance in Being, Power of Acting, Will to Power, however you wanna call the essence of every being) through the search for strengthening the mind-body (two unseparable faces of the Human being). As examples we can mention the practice of high intensity physical exercises regularly, daily and intense study, having a good strong diet, constraint of certain luxurious apetites etc. And if in terms of political proposal I vehemently disagree with Nietzsche, at least in this aspect I’m in agreement with him: strengthened Will to Power doesn’t aim towards raising the feeling of pleasure and reducing the feeling of pain, but aims towards one as well as the other. The point is simple: happy and complete Life is the one you conquer with nails and teeth, submiting yourself to tremendous efforts in order to be able to be more. Or would you think that the practice of physical exercises is prescribed to people with depression because the health professional has some sort of sexual fetish with the patient and wants to see him, or her, “fit” for the next appointment? And by the way, about physical exercises the following needs to be said: if it’s not hurting, you’re doing it wrong. The weightlifting gym (the sport that I practice), for example, is not a place to “feel well” or “unleash good energies”: any person who’s been for more than a year in this environment and takes it seriously knows that that is a place for your body to suffer, for without great physical efforts there is no expressive muscular hypertrophy and fat burning – which by the way are extremely healthy things, as long as the usage of synthetic hormones and ergogenics is out.
But going back to the political matter. It is known why part of the Left talks bullshit about this so absolutely necessary concept for Life called Discipline. In fact, it is as if this was something exclusive of the fascists, and not historically something intimately connected to the workers’ struggle. As if Discipline wasn’t, for example, aesthetically connected to the artistic philosophy of Constructivism, and represented in the war flyers made by the National Confederation of Labour (CNT) and the Iberian Anarchist Federation (FAI) during the Spanish Revolution; or in the Brazilian Anarchist Coordination (CAB)’s militant discourse and practice; in the Democratic Federation of Northern Syria’s armed forces’ marches and choirs; as if the EZLN’s Zapatista indigenous peoples organised themselves politically according to the "Do what thou wilt shall be the whole of the Law" defended by Raul Seixas, Ave Sangria and Novos Baianos’ generation! - by the way, the last two are great bands that I, for one, adore (but even when making hippie music it is necessary Discipline, rehearsals and more more rehearsals and repetition after repetition after earch mistake when playing the chords!). And that’s because I only mentioned four examples of the Left’s libertarian branch, for were I to include all the ones belonging only to this branch at this moment, I’d spend pages and more pages writing only here in this section (what’s to say if I include the examples of the Statist branch!). Anyway, as if there could be any possibility of rupture with the current structures, radical social transformation and creation of a sovereign society without a gigantic concentration of forces from the social organizations that represent the struggles from the ones below.
One must comprehend that what I’m defending here is nothing more than that which the feminist militant Jo Freeman in her article “The Tyranny of Structureless”, as well as the the theoretician of Communalism Murray Bookchin in his “Social Anarchism or Lifestyle Anarchism” defended with different words. Defenders of the New Left and other Left-wing liberals will obviously say that I’m defending an authoritarianism of the collectivity over the individuals. As if the mere collective display of asses and kisses against Bolsonaro, Kaczynski or Duterte had any real impact beyond the mere symbolism! Now you see the absurd level of cowardice and softness that part of our Left has gotten to, to who fighting fascist collectively and with Unity of Action is fascism too!
Moreover, I took the samples from the film “Alexander” by Oliver Stone and from this version of the song “Biji Biji Ypg”: www.youtube.com/watch?v=47hYnXu7TgI